"Acima de tudo, procurem sempre sentir profundamente qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário." Che Guevara (Cartas aos filhos)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O último discurso de Salvador Allende



Como morei algum tempo em Cuba, não havia revelado esse detalhe, mas não tenho pretensão de ser dono da verdade.
Sou socialista! E daí?!
Todos sabem, não posso negar...
Quero confessar que não consigo conter-me diante do último discurso de Allende, choro que nem criança e grito: - Hermano queria está contigo resistindo toda covardia impetrada pelos Yankes!
O discurso de Salvador Allende é um testamento para a América Latina.
Escutem Allende, por favor!!!
Aprendi a usar metralhadora e fuzil em Cuba.
Gostaria de andar as calles novamente como se fora Santiago sitiada... Ao lado de Salvador Allende em 11 de stembro de 1973, a vida valeria a pena, resistiria com ele... E choraria pelos ausentes...

Último discurso de Salvador Allende
9:10
Certamente esta será a última oportunidade de falar para vocês. A Força Aérea bombardeou as torres da Rádio  Postais e Radio Corporação. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção que são elas o castigo moral para aqueles que traíram o juramento que fizeram: soldados do Chile, comandantes titulares, o Almirante Merino, que se autodesignou o Comandante da Marinha, e o senhor Mendoza, general rastejante que ainda ontem manifestara sua fidelidade ao governo, e também se autodenominou diretor geral da polícia. Perante estes fatos só posso dizer aos trabalhadores: Eu não vou renunciar!
Colocado numa transição histórica, pagarei com minha vida a lealdade do povo. E lhes digo que tenho certeza de que a semente que temos entregue à consciência digna de milhares e milhares de chilenos não poderá ser ceifada definitivamente.
Eles têm a força e poderão nos submeter, porém, não se detêm os processos sociais nem com os crimes e nem com a força. A história é nossa, e os povos a fazem.
Trabalhadores de minha Pátria: quero agradecer a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em respeito a Constituição e a lei, e que assim fez. Neste momento decisivo, o último em que eu posso dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reação criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, que ensinou o general Schneider e reafirmada pelo comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estão em casa esperando com estrangeiros recuperar o poder de continuar a defender os seus lucros e seus privilégios.
Dirijo-me, sobretudo, à mulher simples de nossa terra, a mulher camponesa que acreditou em nós, a avó que trabalhou mais, à mãe que soube de nossa preocupação para as crianças. Dirijo-me aos profissionais da Pátria, os profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição patrocinada por escolas privadas, por classes que defendem também as vantagens de uma sociedade capitalista de uns poucos.
Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu espírito de luta.
Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo já se faz presente por muitas horas, nos ataques terroristas, explodindo pontes, cortando a linha férrea, destruindo os oleodutos e gasodutos, frente ao silêncio de quem tinha a obrigação de impedir. Eles não impediram. A história os julgará.
Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranqüilo de minha voz não chegará até vocês. Não importa. A audiência vai continuar. Eu sempre estarei com vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à Pátria.
O povo deve defender-se, mas não sacrificar-se. O povo não deve deixar-se ser destruídos ou crivados de balas, mas também não pode inclinar-se.
Trabalhadores da minha pátria, tenho fé no Chile e no seu destino. Outros homens superarão este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se. Sigam vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, de novo se abrirão as grandes avenidas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.
Viva Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores!
Estas são as minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão, tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição.

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