"Acima de tudo, procurem sempre sentir profundamente qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário." Che Guevara (Cartas aos filhos)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Estrada da Mantiqueira e Tiradentes.


Não é possível ficar indiferente diante do dia 21 de abril.
Refiro-me ao dia de Tiradentes.
Nunca é demais relembrar que Joaquim José da Silva Xavier, alcunhado "Tiradentes", era um desafortunado, os pais morreram prematuramente, deixando sete filhos, perdera suas propriedades por dívidas e tentara sem êxito o comércio. Em 1775, entrou na carreira militar, no posto de alferes, o grau inicial do quadro de oficial. Nas horas vagas, exercia o ofício de dentista, de onde veio o apelido depreciativo de Tiradentes.
Para entender como "Tiradentes" se meteu nessa fria, necessário se faz uma rápida regressão à sociedade mineira das últimas décadas do século XVIII, era uma fase de declínio, queda na produção de ouro, e a Coroa portuguesa exigindo a arrecadação do quinto(tributo sobre o ouro), os inconfidentes, tomada a história pessoal de cada um, apresentavam razões específicas de descontentamento em relação à administração da capitania. Os inconfidentes constituíam um grupo da elite colonial, eram: mineradores, fazendeiros, magistrados, advogados e militares de alta patente...
Alguém lembra de dois livros que líamos no segundo grau(ensino médio): "Marília de Dirceu" e "Cartas Chilenas"?
O autor dessas obras é o intelectual e Ouvidor da Coroa portuguesa, logo, integrante da elite colonial: Tomás Antonio Gonzaga.
Tomás Antonio Gonzaga, pelos planos dos inconfidentes, vitoriosa a conjuração seria o governante durante os três primeiros anos e depois haveria eleições.
Para entender melhor a conjuração que se formava anote o ano de 1782.
Em 1782 com a chegada do novo governador da capitania - Luís da Cunha Meneses, a elite mineira foi marginalizada, o governador passou a favorecer seu grupo de amigos...
Quando começou a desgraça de "Tiradentes"?
Começou a partir do momento que ele perdeu o comando de um destacamento dos Dragões que patrulhava a estrada da Serra da Mantiqueira. Em relação à Inconfidência Mineira o nosso Joaquim José(Tiradentes) não liderava nada, não tinha posses... Era mais um insatisfeito com a nova situação.
Figuras históricas do movimento, além de Tomás Antonio Gonzaga, se destacam Alvarenga Peixoto magistrado, Francisco de Paula Freire de Andrade de alta patente militar era o comandante dos Dragões.
Definitivamente Tiradentes não pertencia à elite que organizara o movimento, era uma exceção... Juntou-se ao movimento para retomar o comando na estrada da Mantiqueira... Pagou um preço alto!
Joaquim José foi um "inocente útil"...
A ameaça da derrama, serviu de senha para a conjuração, muitos inconfidentes eram devedores da Coroa, e por conta da derrama havia a ameaça de cobrança  de devedores da Coroa... Muitos devedores da Coroa eram decorrentes de contratos feitos com o governo português para arrecadar impostos, era comum na época colonial conceder a função de arrecadar impostos aos particulares que tinham boas relações na administração com a Coroa, arrecadavam e não repassavam todos os recursos à Coroa.
em março de 1789 o movimento rebelde foi denunciado pelo inconfidente Silvério dos Reis, que era devedor da Coroa, como vários inconfidentes, a opção de Silvério foi livrar-se de seus problemas denunciando o movimento.
Muitos inconfidentes foram presos, mas a Rainha Dona Maria enviou uma carta de clemência, transformando toda pena capital em banimento (expulsão do Brasil), exceto Tiradentes... Pobre Tiradentes...
Não pertencia à elite, um estranho no ninho... E justamente por não pertencer ao grupo de privilegiaados que Joaquim José deveria servir de exemplo.
Enforcado e esquartejado.
Joaquim José da Silva Xavier era uma pessoa do povo, a elite preservada, Tiradentes esquartejado!
Os militares que apoiaram o Império e odiavam Tiradentes, com a República tiveram que enaltecer o novo ícone: Tiradentes.
Eis aí a história de uma pessoa que queria apenas recuperar o comando de um pequeno destacamento na estrada da Mantiqueira... Só isso.

domingo, 11 de abril de 2010

Dilma é Lula e Lula é Dilma por Pedro Nelito.

O professor Pedro Nelito fez uma análise interessante sobre a próxima eleição, vamos acompanhá-lo e refletir sobre a cartada dada pelo candidato José Serra, vamos ler o texto:

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DILMA É LULA E LULA É DILMA. (Pedro Nelito Jr.)*
Aécio Neves buscou virar pré-candidato do PSDB para a eleição presidencial de 2010, mas a base paulista não permitiu. A hora era de Aécio. Serra insistiu e fincou o pé, o PSDB nacional a contragosto aceitou, FHC andou tagalerando a favor de Serra.  Aécio perdeu, o PSDB pode perder muito mais, apostou todas as cartas em Serra. E se o eleitorado se convencer de que Dilma é Lula?!
O eleitor quer continuidade, basta analisar que Lula atingiu mais de 80% de aprovação. Não é para ficar assustado se o candidato Serra no horário eleitoral for mais lulista do que Dilma...
Dilma é Lula, e Lula tem reforçado essa percepção. Quando a campanha iniciar, o presidente se tornará o maior eleitor de Dilma, Lula elege até um poste.
A Rede Globo e a Revista Veja tentam desqualificá-lo como tal, as elites se inquietam com a possibilidade de Dilma se tornar a primeira mulher presidente do Brasil, não por ser mulher, mas por ser continuidade de Lula.
Provavelmente o eleitor olhará para o passado para definir o futuro, e aí a candidata Dilma leva vantagem, não esqueçam: Dilma é Lula.
Nos bastidores do PSDB, as pessoas reclamam do mau humor do político Serra, a esperança do tucanato é que Serra se transforme no "Serrinha paz e amor", mas cabe perguntar: - Conseguirá?
O PSDB mineiro pensava que Serra diante da popularidade de Lula - mais de 80% de aprovação, somado ao relacionamento conflituoso com Geraldo Alckmin, fosse optar pela reeleição ao governo do Estado de São Paulo. Serra apostou alto, talvez um blefe, como jogador de pôquer, sustenta que tem "as cartas", quando terminarem as eleições saberemos se Serra foi um blefador...
José Serra deixou o governo de São Paulo com uma reeleição tranquila, para se aventurar numa eleição contra o mais popular Presidente do Brasil de todos os tempos: - Luís Inácio Lula da Silva.
A sua derrota pode arrastar pelo ralo da história partidos políticos importantes: - PSDB e DEM.
Será que Serra pensou nisso?
Aécio pode ser vítima desse processo. Restará o quê depois da vitória de Dilma?
Se for vitória acachapante, restará um sorriso amarelo ao PSDB.
Vitória apertada, resta apenas o Aécio. Serra será esquecido como FHC.

* Professor universitário e sociólogo.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vem pra frente!

VEM PRA FRENTE VOCÊ TAMBÉM!
VEM!

"O que está em jogo na política nacional" por Davi Carneiro

Tenho acompanhado mesmo de longe as mobilizações levadas a cabo pelo jovem intelectual/militante Davi, a preocupação do velho e bom Marx sempre foi a práxis revolucionária, unir teoria a uma prática libertadora, ou ainda, unir uma teoria libertadora à prática cotidiana, pois bem, o jovem Davi Carneiro com a humildade dos "simples de coração" tem buscado o caminho das pedras, sem arrogância e bravatas (comum em pulhas de direita e esquerda) vai ajustando os estudos no curso de direito com a prática libertadora dos movimentos sociais, foi dirigente do centro acadêmico de direito, hoje participa com o Professor Arroyo da "Rede de Economia Solidária" e criou junto com outros jovens universitários o grupo "Juventude Cidadania" para difundir o movimento em torno da economia solidária.
Não basta militar é essencial estudar, Che Guevara após a Revolução triunfar em Cuba, afirmava a importância de produzir conhecimentos para libertar o homem da ignorância de todos os matizes.

O QUE ESTÁ EM JOGO NA POLÍTICA NACIONAL (Davi Carneiro)

1 - Talvez uma das maiores revoluções do século XX tenha sido a conquista do sufrágio universal. Conferir o mesmo peso às pessoas na hora de eleger seus representantes, pelo menos em um plano formal, é assumir a igual consideração sobre o destino de todos e todas. No entanto, entre nós, onde não raro a inserção do liberalismo político deu-se “fora de lugar”, seja pela ação demiúrgica do Estado ou mesmo pela tutela de setores oligárquicos, esta assertiva, apesar das aparências, parece longe de ser consenso. Vivenciamos hoje o retorno de um passado oligárquico que tende a nos assombrar, ou pior, a demonstração patente da face perversa do moderno que construímos até então.
2 - No segundo livro de seu “A democracia na América”, Tocqueville, analisando a revolução democrática inglesa, confiava no caráter de estrato social definido pela honra e por valores espirituais da aristocracia para “corrigir” a cultura material que emergia com a igualdade de condições, resguardando assim tanto a liberdade como as virtudes públicas. Em terra brasilis, onde a excelência aristocrática nunca foi o forte de nossas oligarquias, estas também consideravam a si mesmas como porta-vozes das virtudes do país, como se fossem dotadas de um mandato universal, ou mesmo, se confundissem com a própria “opinião pública”.
3 - Hoje, pelo menos duas manifestações desta tendência, mostram-se em clara evidência, permeando os debates públicos e dividindo opiniões por todo o país. A primeira delas é o comportamento da grande mídia frente a certas ações do governo federal e dos movimentos sociais. Recentemente, em uma entrevista, a presidente da ANJ (Associação Nacional dos Jornais) não hesitou em dizer que os grandes “meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”. Ou seja, ao invés de informar a população sobre o que de fato acontece no país ou mesmo emitir suas opiniões demonstrando-as enquanto tal e admitindo o contraditório, certos meios de comunicação adotaram deliberadamente a oposição sistemática ao governo, não raro assumindo posições francamente contrárias aos direitos dos trabalhadores, aos movimentos sociais e a políticas de inclusão social. E, quando, para o seu desespero, a reação do público é oposta às suas opiniões, como nas eleições presidenciais passadas, afirmam sem pudores que o povo votou “contra a opinião pública”.
4 - Outra face desta tendência, mais escancarada ou, pelo menos, mais sincera, são os argumentos francamente iníquos utilizados por certos políticos conservadores para defender posições abertamente preconceituosas ou racistas. Não foi de outra maneira que o DEM, partido que provavelmente indicará o vice na candidatura de José Serra, defendeu sua posição em relação às cotas raciais.
5 - Aqui, não se quer entrar no mérito de uma questão certamente complexa, mas somente demonstrar o que realmente pensa uma parcela importante dos setores políticos deste país. Vejamos. Segundo o Senador Demóstenes Torres, porta-voz do partido nesta discussão, fala-se que “as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. Gilberto Freyre, que hoje é renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual". Após esta pérola sexista e racista, o Senador continua: “"Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram.”, culpando assim, os próprios negros pela escravidão.
6 - Como acusaria Sérgio Buarque de Holanda em seu “Raízes do Brasil”, “a democracia no Brasil sempre foi um lamentável mal-entendido”. E as oligarquias “sempre tratam de acomodá-la, onde for possível, aos seus direitos e privilégios”. Ao falar de “liberdade de imprensa”, lincham publicamente reputações e manipulam o direito à informação, ao defenderem a “democracia racial”, revelam o que pensam sobre os direitos das mulheres e o papel do negro na construção do Brasil. Para que este “mal-entendido” não fique no dito pelo não dito, precisamos, com as armas que temos, combater essas manifestações oligárquicas em todas as direções. Pois, apesar delas, amanhã será outro dia e estamos lutando para construir um país para cidadãos e cidadãs, iguais em direitos e em dignidade.