"Acima de tudo, procurem sempre sentir profundamente qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário." Che Guevara (Cartas aos filhos)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

"O que está em jogo na política nacional" por Davi Carneiro

Tenho acompanhado mesmo de longe as mobilizações levadas a cabo pelo jovem intelectual/militante Davi, a preocupação do velho e bom Marx sempre foi a práxis revolucionária, unir teoria a uma prática libertadora, ou ainda, unir uma teoria libertadora à prática cotidiana, pois bem, o jovem Davi Carneiro com a humildade dos "simples de coração" tem buscado o caminho das pedras, sem arrogância e bravatas (comum em pulhas de direita e esquerda) vai ajustando os estudos no curso de direito com a prática libertadora dos movimentos sociais, foi dirigente do centro acadêmico de direito, hoje participa com o Professor Arroyo da "Rede de Economia Solidária" e criou junto com outros jovens universitários o grupo "Juventude Cidadania" para difundir o movimento em torno da economia solidária.
Não basta militar é essencial estudar, Che Guevara após a Revolução triunfar em Cuba, afirmava a importância de produzir conhecimentos para libertar o homem da ignorância de todos os matizes.

O QUE ESTÁ EM JOGO NA POLÍTICA NACIONAL (Davi Carneiro)

1 - Talvez uma das maiores revoluções do século XX tenha sido a conquista do sufrágio universal. Conferir o mesmo peso às pessoas na hora de eleger seus representantes, pelo menos em um plano formal, é assumir a igual consideração sobre o destino de todos e todas. No entanto, entre nós, onde não raro a inserção do liberalismo político deu-se “fora de lugar”, seja pela ação demiúrgica do Estado ou mesmo pela tutela de setores oligárquicos, esta assertiva, apesar das aparências, parece longe de ser consenso. Vivenciamos hoje o retorno de um passado oligárquico que tende a nos assombrar, ou pior, a demonstração patente da face perversa do moderno que construímos até então.
2 - No segundo livro de seu “A democracia na América”, Tocqueville, analisando a revolução democrática inglesa, confiava no caráter de estrato social definido pela honra e por valores espirituais da aristocracia para “corrigir” a cultura material que emergia com a igualdade de condições, resguardando assim tanto a liberdade como as virtudes públicas. Em terra brasilis, onde a excelência aristocrática nunca foi o forte de nossas oligarquias, estas também consideravam a si mesmas como porta-vozes das virtudes do país, como se fossem dotadas de um mandato universal, ou mesmo, se confundissem com a própria “opinião pública”.
3 - Hoje, pelo menos duas manifestações desta tendência, mostram-se em clara evidência, permeando os debates públicos e dividindo opiniões por todo o país. A primeira delas é o comportamento da grande mídia frente a certas ações do governo federal e dos movimentos sociais. Recentemente, em uma entrevista, a presidente da ANJ (Associação Nacional dos Jornais) não hesitou em dizer que os grandes “meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”. Ou seja, ao invés de informar a população sobre o que de fato acontece no país ou mesmo emitir suas opiniões demonstrando-as enquanto tal e admitindo o contraditório, certos meios de comunicação adotaram deliberadamente a oposição sistemática ao governo, não raro assumindo posições francamente contrárias aos direitos dos trabalhadores, aos movimentos sociais e a políticas de inclusão social. E, quando, para o seu desespero, a reação do público é oposta às suas opiniões, como nas eleições presidenciais passadas, afirmam sem pudores que o povo votou “contra a opinião pública”.
4 - Outra face desta tendência, mais escancarada ou, pelo menos, mais sincera, são os argumentos francamente iníquos utilizados por certos políticos conservadores para defender posições abertamente preconceituosas ou racistas. Não foi de outra maneira que o DEM, partido que provavelmente indicará o vice na candidatura de José Serra, defendeu sua posição em relação às cotas raciais.
5 - Aqui, não se quer entrar no mérito de uma questão certamente complexa, mas somente demonstrar o que realmente pensa uma parcela importante dos setores políticos deste país. Vejamos. Segundo o Senador Demóstenes Torres, porta-voz do partido nesta discussão, fala-se que “as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. Gilberto Freyre, que hoje é renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual". Após esta pérola sexista e racista, o Senador continua: “"Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram.”, culpando assim, os próprios negros pela escravidão.
6 - Como acusaria Sérgio Buarque de Holanda em seu “Raízes do Brasil”, “a democracia no Brasil sempre foi um lamentável mal-entendido”. E as oligarquias “sempre tratam de acomodá-la, onde for possível, aos seus direitos e privilégios”. Ao falar de “liberdade de imprensa”, lincham publicamente reputações e manipulam o direito à informação, ao defenderem a “democracia racial”, revelam o que pensam sobre os direitos das mulheres e o papel do negro na construção do Brasil. Para que este “mal-entendido” não fique no dito pelo não dito, precisamos, com as armas que temos, combater essas manifestações oligárquicas em todas as direções. Pois, apesar delas, amanhã será outro dia e estamos lutando para construir um país para cidadãos e cidadãs, iguais em direitos e em dignidade.

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